domingo, 20 de outubro de 2013

Mente Letal (pensar doi)

Ali estava eu, perdido no deserto, sem carro, sem água, sem comida…apenas os últimos três cigarros que me restavam do maço de tabaco. Caminhava sem rumo, á procura de algo, algo diferente, algo espectacular, algo exótico. Queria tanto ver algo acontecer, que nada acontecia, apenas vento, areia e calor. «Já estou a ficar um pouco afectado com o calor, temos de arranjar sombra» disse eu, para alguém que me interessava muito, que lá estava comigo, no meio dos tons amarelos e laranjas. O meu precioso advogado viera comigo nesta trip, neste estado de pureza e solidão, onde o que não morre reina. «E se parássemos para descansar naquela sombra ali, debaixo da rocha?» Eu olhei, e vi uma gruta, com ar seco e fresco, onde possíveis vidas foram salvas e onde o meio ambiente não é afectado pelo sol, ou pela chuva. «Meu, preciso mesmo de me ir sentar, isto está-me a começar a bater» já sentia o suor a escorrer pelos braços e a cair pelos dedos. Caminhamos, e a gruta estava lá, bem ao longe, tão longe que nem a luz do sol conseguia lá chegar. Pelo caminho deparava-me com situações estranhas, as vibrações estavam pesadas e negativas, algo de perigoso assustava-me. «Esta sauna já está a dar cabo de mim, talvez fosse melhor atirar-me para as dunas, sentar-me e descansar um bocadinho» pensei para mim mesmo. Se havia sítio capaz de destruir uma vida em pouco tempo, este era um. «Não sejas parvo, estamos quase a chegar» mas a verdade, é que não estávamos. Estaríamos a ter algum tipo de visão turva, que nos levasse para a morte? Se assim fosse, estaria condenado a morrer por uma simples curiosidade? O cansaço apoderou-se do meu corpo, deixando sensações de sonolência e irritação, as alucinações já não eram só visuais, eram também auditivas.
- Então e essa gruta? Onde anda ela?
- Lá no horizonte, na linha do vento, onde a corrente nos puxa para o sofrimento.
- O que é que estás para aí a dizer? Não me digas essas coisas – falei com algum custo, a minha boca já estava demasiado seca para conseguir falar direito e como cria.
- Relaxa, isso já passa e é só poesia, não pares de andar, segue em frente.
Olhei em frente e…e não vi nada. Nada que não tivesse á espera, sempre a mesma imagem, vezes sem conta a rodar na minha cabeça confusa e alterada. O corpo já termia e sentia calor-frios em todo o corpo. O que seria isto? Seria a desidratação? Ou a fome? As perguntas eram imensas e nunca havia resposta, apenas a melodia da mentira descabida e a omissão da verdade pura. «Tenho tanta sede, já não tenho saliva, preciso de água urgentemente, ou álcool tanto me faz, tira-me desta dor, desta agonia, mata-me agora, deixa-me com os abutres, deixa-me tornar parte deles, deixa a minha alma em paz na terra da morte.» Após este desabafo profundo com o meu advogado, perdi as forças e caí, de joelhos na areia, como se me ajoelhasse perante o Deus da morte, perante o deserto, o ceifador de vidas. Tinha sido derrotado pelo meio ambiente, e enquanto perdia o resto dos sentidos que me restavam consegui fazer uma reflexão, ninguém em estado algum, tem o poder de controlar o corpo e a mente num local como este. Se assim é, questionei-me a razão pela qual eu tinha ido nesta viagem pelo inferno. Qual seria a minha expectativa? Acabei por não conseguir pensar mais, decidi descansar a sabedoria e deixar-me vencer pelo meu rival.

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